domingo, 14 de novembro de 2010

Um filme onde as cores e a solidão são as principais personagens - Blow Up - Depois daquele beijo

Sob a sombria atmosfera de Londres em meados de 1960 situa-se a história de Blow-up - Depois daquele beijo de Michelangelo Antonioni. Cenas caracterizadas pela ausência de diálogos e de soluções imediatas ou convencionais.Um filme que não deixa explícito a princípio seu sentido, em cima de que se desenvolverá e no meio da história deixa entender que seu enredo se desenrolará em cima de uma investigação de cunho policial.
O personagem central da história Thomas, um fotógrafo de moda após revelar fotos que tirou de um casal que se beijava num parque, percebe que pode ter registrado em tais fotos um assassinato por descobrir um corpo junto a um arbusto no parque. Tal "investigação" inicia-se quando o personagem faz ampliações de fragmentos das fotografias, o que pode explicar o título do filme visto que "Blow-up", pode ser traduzido como ampliação fotográfica. O personagem volta até o parque, no suposto local do crime e de fato encontra ali o cadáver. Mesmo o filme possuindo tais ares de mistério quem o assiste com o intuito de desvendar um crime certamente terá grande decepção. O cineasta está muito mais interessado no processo, em como se dá essa investigação e como isto reflete num momento de felicidade e de fuga da rotina para Thomas, personagem que materialmente tem o que quer mas busca algo que lhe falta na essência. Tal afirmação pode ser percebida quando em uma cena, ele compra num antiquário uma grande hélice só para mostrar que pode e mais tarde percebe-se que tal objeto não lhe terá nenhuma serventia ou melhor, terá, será mais um de seus adornos. A investigação que o personagem experimenta ao longo do filme trás para ele um êxtase muito maior do que o obtido ao comprar tal objeto. Isto mostra um contraste que se tem implícito no filme, entre o tangível e o intangível.
Blow-up pode ser caracterizado de forma geral como um filme de contrastes, um deles é o contraste de cores. As cenas, de belíssima fotografia, sempre apresentam determinado contraste de cores: seja de um objeto ou pessoa que se destaca em meio a ausência de cor do cenário ou da sombria Londres retratada no filme; seja do personagem e sua ausência de cor destacando em meio a saturada cor da cena. Em diversas cenas isso pode ser visto como quando Thomas vê a mulher das fotos próxima a um local que onde está acontecendo um show e ele tenta segui-lá. Passa por um beco onde numa parede branca surge sua sombra como elemento de destaque, passa por um corredor coberto por cartazes em preto e branco até chegar de fato ao local do show, onde a maioria das pessoas também possuem gritante ausência de cor o que faz com que os integrantes da banda se destaquem, juntamente com um casal que dança estranhamente em meio ao público, com roupas coloridas e cintilantes. Até mesmo um dos modelos de cartaz do filme explicita tal contraste retratando dois personagens do filme em preto e branco em frente a um fundo vermelho o que mostra que até mesmo a ausência de cor pode ser um elemento de destaque.
É por estas e outras razões que afirmo que neste filme as cores (ou a ausência de cores) e a solidão são as personagens principais. Thomas é apenas um ser, um solitário ser que chega em determinados locais onde o excesso ou ausência de cor já chegou primeiro.


2 comentários:

  1. Po grande filme, e grande análise cara.
    Antonioni é um gênio, tenho até que rever essa obra depois.
    Incrível como ele consegue mostrar que até uma vida que é aparentemente perfeita (chegando a ser invejável para a aspirantes a artistas), acabam caindo no tédio. E o ser humano, inconscientemente, por necessidade, exagera coisas pequenas que vê para sair dessa tormenta da rotina (talvez outra explicação para o blow-up).

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